Em defesa do consumidor, que tem o direito de conhecer aquilo que compra e come, o Greenpeace travou e venceu uma batalha com gigantes.
O Greenpeace passou três anos em meio a investigações e protestos, lidando com empresas poderosas do setor alimentício Bunge e Cargill, além de redes de supermercados. Não foi fácil, mas faríamos tudo de novo: no final, o brasileiro ganhou mais honestidade e transparência no carrinho de compras.
A história começa em 2003. Naquele ano, o governo Lula aprovou a Lei de Rotulagem, que determinava que alimentos que contivessem a partir de 1% de transgênicos entre seus ingredientes seriam obrigados a apresentar claramente essa informação na embalagem. Só que a lei era letra morta: nenhuma empresa queria assumir publicamente que usava matéria-prima transgênica em seus produtos. Era como se, de repente, todos os alimentos fossem seguros.
Esse "milagre" dos alimentos pseudolivres de transgênicos não passou despercebido pelo Greenpeace. Desconfiávamos que, atrás de embalagens bonitas e coloridas, havia organismos geneticamente modificados. O mínimo que deveria ser feito era sua correta identificação, para que o consumidor pudesse escolher o que comia.
Em julho de 2005, uma investigação minuciosa comprovou a desconfiança. Os óleos mais consumidos do país, Soya, da Bunge, e Liza, da Cargill, continham soja transgênica em sua composição. Para chegar a essa conclusão, foram mapeados os tipos de sementes usados para o processamento da soja e fabricação do óleo. Na porta das fábricas, uma equipe interceptava os caminhões que chegavam com a semente e, ali mesmo, em uma mesa de testes, checavam os grãos.
Os testes foram realizados em fábricas em Ourinhos (SP), Dourados (MS), Campo Grande (MS) e Três Lagoas (MS). Foi comprovado o uso de transgênicos em todas, menos em Campo Grande. O motivo? De lá eram exportados os produtos para a Europa, onde não é aceito óleo com traços de transgenia – uma vez que o consumidor europeu é muito exigente, o produto geneticamente modificado era jogado na mesa do brasileiro.
Todo o processo foi filmado e as provas, entregues ao Ministério Público Federal em outubro de 2005. Um protesto com 20 ativistas representando consumidores brasileiros, que empurravam carrinhos de supermercado cheios de latas de óleos Soya e Liza pela rampa do Congresso Nacional, marcou a entrega oficial de dossiês com evidências da denúncia para o governo. Os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ) e João Alfredo (PSOL-CE), então integrantes da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, reivindicaram o cumprimento do decreto da rotulagem.
O desrespeito com o consumidor brasileiro era tamanho que, dois anos depois da denúncia, e apesar da abertura de inquérito do Ministério Público Federal resultar em mais um decreto de obrigatoriedade da rotulagem, as prateleiras ainda traziam óleos Soya e Liza sem a informação correta na embalagem. Mais uma vez, o Greenpeace entrou em ação.
A campanha pela rotulagem saiu das fábricas e ganhou os supermercados, em protestos realizados na Semana do Consumidor, em março de 2008. Munidos de adesivos com o símbolo de transgênicos, um "T" amarelo, ativistas rotularam nas prateleiras os óleos comprovadamente transgênicos.
Foi um barulho só e uma briga daquelas, mas que surtiu efeito. No início de 2008, Bunge e Cargill finalmente passaram a seguir a lei, e os primeiros óleos rotulados começaram a chegar aos supermercados brasileiros. O consumidor finalmente teve seu direito respeitado.
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